segunda-feira, 6 de abril de 2009

Crise entre as orelhas

"It's not the economy out there that is the problem, it's the economy between your ears that is the problem." Zig Ziglar

Tive o privilégio, aqui há uns anos atrás, de ser aluno do Prof. Anibal Cavaco Silva, hoje Presidente da República. Recordo-me que um dos temas de que o Professor falava bastante e que ainda hoje retenho da memória, era do clima de confiança económica e acima de tudo daquilo a que julgo que poderiamos classificar como a nossa auto-imagem económica enquanto Povo. Ou seja aquilo que pensamos sobre nós próprios (colectivamente), como principal condicionante da forma como agimos.
Da mesma forma que é a nossa auto-imagem individual que condiciona os nossos desempenhos enquanto indivíduos, também será este nosso (baixo) auto-conceito colectivo que nos empurra para a cauda da Europa e nos coloca cada vez mais longe dos nossos objectivos.

De cada vez que abro um jornal ou que ligo a televisão, aquilo que vejo são, acima de tudo, pessoas a dizer que “...isto está muito mal!” enquanto procuram responsáveis, no sentido de os culpar pelo que se passa. Então o Governo é uma nódoa, os Bancos é que têm a culpa, os Patrões então nem se fala e, na falta de melhor, até a Sogra e o Mordomo podem recolher algumas responsabilidades.

Antes de falecer, Eduardo Prado Coelho escreveu, no Público,um fantástico artigo onde apelava exactamente para a nossa consciência individual, como forma de melhorar os nossos resultados colectivos. Neste artigo pedia-nos que deixássemos de apontar o dedo aos nossos Governantes, como responsáveis por tudo o que de negativo se passa nas nossas vidas e assumíssemos, de uma vez por todas a responsabilidade de mudar o nosso futuro.

Atenção que não quero com isto dizer, que devemos deixar de pedir responsabilidades a quem nos governa e/ou lidera, nem que devemos abdicar de denunciar aquilo que diariamente nos choca. Aquilo que defendo é que teremos muito mais legitimidade para o fazer, a partir do momento em que cumprimos a nossa parte. E cumprir a nossa parte é não contribuirmos com menos do que a nossa capacidade nos permite. Cumprirmos a nossa parte é não sermos menos do que exemplos brilhantes para os nossos pares (e já agora para os nossos filhos). Cumprirmos a nossa parte é assumirmos também as nossas responsabilidades. E aí sim, temos legitimidade para reclamar. Mas não enquanto não nos mantivermos responsáveis, a nós próprios, por sermos as melhores pessoas que podemos ser. Não enquanto não desenvolvermos, nós próprios, consciência social!

Nos meus seminários com Empresários, falo com frequência daquilo a que chamo as equações do sucesso. A segunda dessas equações e espero sinceramente que não esteja gasta, foi-nos dada por J.F. Kennedy, no seu discurso de tomada de posse como presidente dos EUA. Nesse discurso Kennedy deixou aos Americanos um desafio que ficou mundialmente famoso e que deveria, desde aí, ter sido subscrito por cada indivíduo independentemente da sua nacionalidade. O desafio foi “...não perguntem o que pode o vosso País fazer por vocês, perguntem o que podem vocês fazer pelo vosso País!...” Este desafio é a derradeia evolução de maturidade filosófica. É o desafio da responsabilidade. É a compreensão de que o nosso papel na vida é processar aquilo que nos é proporcionado pelo nosso ambiente e com isso criar valor. É a compreensão de que o primeiro passo para receber é dar!... Todas as equações de sucesso passam por servir!

O caminho para que as coisas melhorem, passa por cada um de nós. Aqueles que preferirem fugir à sua responsabilidade, continuarão a ter de viver com o resultado das suas opções. E já agora se continuarem a tomar as opções que sempre tomaram, vão continuar a viver como sempre viveram... Eu escolho começar por pedir responsabilidades a mim próprio! Todos os dias exijo a mim próprio mais do que no dia anterior. E tenho a noção de que o meu caminho é longo...

Ou como nos deixou Eduardo Prado Coelho no artigo acima mencionado “ ...decidi procurar o responsável, não para o castigar, mas para lhe exigir (sim, exigir) que melhore o seu comportamento e que não se faça de mouco, de desentendido. Sim, decidi procurar o responsável e ESTOU SEGURO DE QUE O ENCONTRAREI QUANDO ME OLHAR NO ESPELHO. AÍ ESTÁ. NÃO PRECISO PROCURÁ-LO NOUTRO LADO.”

Um resumo deste texto foi publicado no jornal OJE de 23.3.09

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